Ceratocone é uma doença não inflamatória que gera afinamento e abaulamento progressivo da córnea, em sua região central ou paracentral.
Desta forma, a córnea, a primeira e mais importante lente do sistema óptico ocular, uma camada fina e transparente que cobre a parte anterior do olho, adquire um aspecto semelhante a um cone, com aumento de sua curvatura.
Geralmente ocorre nos dois olhos, de modo assimétrico. A progressão mais intensa ocorre na adolescência, sendo mais raro vermos a enfermidade progredir após os 35 anos.
É uma doença genética vista com relativa frequência no consultório do oftalmologista. A história familiar está presente em 6% a 8% dos casos.
Ainda não se conhece a causa exata da doença. Possivelmente as alterações na córnea são resultado de inúmeros fatores, desde fragilidades estruturais, alterações no colágeno, até o ato de esfregar ou coçar os olhos com frequência. Por isso, o risco de desenvolver ceratocone é maior nos pacientes alérgicos, que sentem muita coceira nos olhos. O ceratocone também esta presente com frequência maior em pessoas com Síndrome de Down.
A córnea funciona como uma lente fixa sobre a íris, a área colorida dos olhos, e, através da pupila, projeta a luz sobre a retina. Alterações na transparência e curvatura da córnea podem comprometer a visão. O defeito do ceratocone impede a projeção de imagens nítidas na retina e pode promover o desenvolvimento de grau elevado de astigmatismo irregular e miopia.
Sintomas:
O quadro clínico pode variar, desde pacientes assintomáticos, nos casos iniciais ou com pouca distorção corneana até situações dramáticas, com a perda progressiva da visão. Ela se torna borrada e distorcida (tanto para longe quanto para perto) e obriga a aumentar com frequência o grau das lentes dos óculos, que com o tempo deixam de funcionar. Isso gera a necessidade de novos tratamentos e soluções mais complexas para o problema.
Outros sintomas incluem sensibilidade à luz, halos, visão dupla (diplopia) e comprometimento da visão noturna.
Tratamento:
Apesar de não haver cura para a doença, existem inúmeros tratamentos que podem atuar tanto na reabilitação visual, quanto na quanto na progressão da doença.
Então, respondendo a pergunta do título do texto:
– CERATOCONE é sinônimo de cegueira?
Não, atualmente não é sinônimo de cegueira.
Nas fases iniciais, quando a deformação da córnea é leve, o uso de óculos é suficiente para recuperar a acuidade visual.
No entanto, à medida que o ceratocone evolui, os óculos podem precisar ser substituídos por lentes de contato. Elas ajudam a ajustar a superfície anterior da córnea e a corrigir o astigmatismo irregular provocado pela deformidade.
Em alguns casos mais iniciais de ceratocone podem ser utilizadas lentes gelatinosas ou híbridas.
No entanto, as lentes mais usadas e geralmente mais eficazes para a reabilitação visual nesta patologia são as Lentes de Contato Rígidas Gás Permeáveis.
São lentes especiais feitas sob medida para a córnea doente do paciente. Existem diversos modelos no mercado, como as lentes Rose K2 e as lentes esclerais. Essas lentes podem fazer grande diferença na visão e na vida do paciente, gerando ganhos visuais muitas vezes surpreendentes. Um par de lentes especiais pode muitas vezes ser a diferença entre a cegueira e uma vida praticamente normal.
Outra opção de tratamento são os Anéis Intraestromais, também conhecidos como Anéis de Ferrara. São anéis implantados dentro da córnea, utilizados para regularizar a sua curvatura, quando os óculos e as lentes de contato não produzem mais o efeito desejado.
Já o Crosslinking é uma intervenção que tem por objetivo evitar a progressão da doença. Neste caso o foco não é melhorar a visão e sim evitar que a ectasia progrida e a visão se deteriore no futuro. É baseado no uso de radiação ultravioleta + riboflavina (vitamina B2). A ideia é que haja um fortalecimento e endurecimento das fibras de colágeno da córnea, aumentando sua resistência e evitando a progressão de seu abaulamento. Os resultados têm sido promissores.
Por último, caso a doença tenha progredido e a visão não possa ser corrigida com as técnicas descritas anteriormente, o Transplante de Córnea é indicado. Trata-se de uma cirurgia bastante delicada e passível de diversas complicações como, por exemplo, rejeição do enxerto. Novas técnicas menos invasivas, como o Transplante Lamelar Anterior Profundo (DALK) podem ser utilizadas e podem trazer menos riscos aos pacientes, quando comparado ao tradicional Transplante Penetrante.
Lembrar apenas que transplante de córnea não significa a cura da doença, mas pode ser benéfico e ajudar a reestabelecer a visão em casos avançados.